🏅Les JO: tudo sobre as referências da abertura!

A gente te conta como foi a abertura das Olimpíadas em Paris e te mostramos várias referências que talvez tenham passado despercebidas...

Bonjour tout le monde !

É tanto evento acontecendo nos últimos dias que fica difícil de dar conta de enviar a newsletter olímpica no dia previsto, né? 👀 Aqui na Pot-Pourri é sessão de cinema que vai acontecer, é semestre iniciando já na semana que vem e, claro, no contexto francófono, temos o super evento dos Jogos Olímpicos!

Desde o início, sabíamos que esses Jogos seriam históricos, já que a capital das luzes se comprometeu a dar um show e inovar em diversas frentes. E se você acompanhou a abertura de sexta-feira, já deve ter sentido isso. Foi a primeira vez na história dos J.O. que a abertura não aconteceu em um estádio, mas sim nas águas do icônico rio Sena. Oui, sur la Seine !

Pra além da abertura, essas Olímpiadas também têm dado o que falar: Vila Olímpica sem ar condicionado em prol da sustentabilidade (lembrando que estamos no verão europeu!), falta de quantidade de comida e proteína para os atletas no restaurante do Village olympique e competição de triatlo cancelada por conta da má qualidade da água no Sena são alguns exemplos. Mas voltemos ao assunto da nossa news: a abertura! Fizemos uma seleção de algumas referências que achamos incríveis pra vocês.

A ABERTURA DOS J.O. | L’OUVERTURE DES JO 🌊

O país que sedia os Jogos Olímpicos sempre tem a possibilidade de se apresentar ao mundo através do espetáculo da abertura. Por isso, tudo importa muito: as mensagens passadas, os símbolos escolhidos, as escolhas para a cerimônia…

Apesar dos memes 🤣, nesse sentido a França fez escolhas pensando em se apresentar através de uma imagem de diversidade, de tolerância e de muito posicionamento político, bien sûr. Uma coisa bem legal é que, pra isso, buscaram dar conta de um grande número de referências e produções francesas que são conhecidas ao redor do mundo por diversos públicos diferentes. Exemplos marcantes disso foram o personagem do videogame Assassin’s Creed que fez malabarismos com a tocha olímpica ao longo de toda a apresentação e os Minions, personagens do desenho animado “Meu Malvado Favorito”. Para quem não sabia, os Minions são criação dos franceses Pierre Coffin e Chris Renaud, que também dirigiram os filmes, dublaram e criaram a língua falada pelas criaturas amarelas nas animações.

Logo no início, somos apresentados ao vídeo que mostrava o percurso da tocha olímpica antes da chegada ao Rio Sena. Uma das coisas mais criticadas foi inclusive que, como a abertura contou com muitos vídeos, quem de fato pagou para assistir e estava presente lá na hora, nas bordas do Sena, acompanhou a narrativa de forma mais precária através de telões… Olha esse reels aqui pra ter um gostinho de como foi.

Mas nós, que infeliz ou felizmente estávamos acompanhando pela televisão, pudemos acompanhar a história acontecendo através da mistura dos vídeos e das cenas reais no rio. Os escolhidos para atuar no início do filme que acompanhava a narrativa foram o icônico ator e humorista franco-marroquino Jamel Debbouze e o famoso jogador de futebol franco-argelino, Zinedine Zidane, campeão mundial de futebol pela França em 1998. Esse encontro foi também uma referência cinematográfica, já que os dois contracenaram juntos no filme "Astérix e Obélix: Missão Cleópatra".

• Uma curiosidade linguística engraçada: quando Zidane chega e pede a tocha para Jamel, o humorista reage falando o apelido do jogador, que é “Zizou”. No entanto, ele adiciona a palavra “Christ”, fazendo soar “Jésus Christ”, ou seja “Jesus Cristo!” 😂 Vem ver aqui!

Zinedine Zidane conduz então a tocha olímpica e, depois de percorrer as ruas de Paris e ficar preso numa pane no metrô (algo tipicamente parisiense!), o craque a confia a um grupo de crianças francesas - fenotipicamente diverso, trazendo uma imagem racialmente mais plural da juventude francesa. As crianças se encontram com Arno, personagem de Assassin’s Creed e, quando o vídeo acaba, o grupo aparece em um barco no Sena, levando a tocha e dando início à abertura.

A abertura ainda deu destaque para a comunidade LGBTQIAP+, para personalidades francófonas (e não francesas!) e para atletas e artistas antilhanos (as Antilhas francesas são ilhas localizadas no Caribe que ainda são territórios pertencentes à França).

Um dos pontos altos da noite foi o hino francês, la Marseillaise, interpretado pela cantora lírica guadalupense Axelle Saint-Cirel. Considerando que Guadalupe é uma ilha caribenha colonizada pela França e que a tensão entre ela e a metrópole é histórica, foi bastante surpreendente ver Saint-Cirel cantando o hino nacional. Nessa reportagem dá pra ver uma parte da apresentação. Para completar, sua imagem acabou fazendo alusão a Marianne, figura alegórica que representa a República Francesa, símbolo da liberdade e da democracia, que frequentemente é representada por uma mulher branca. Esse vídeo aqui da France Culture fala sobre a imagem da Marianne noire, se tu quiser te aprofundar na referência!

Juntamente com o hino nacional, outro ponto impactante da noite foi a apresentação da cantora maliana Aya Nakamura. E era preciso ter acompanhado os debates dos últimos meses para realmente entender toda a força desse momento. Quando foi anunciado que Aya iria se apresentar nos J.O., a diva foi alvo de uma onda de ataques dos franceses, que disseram que ela não representava a França e nem a língua francesa, uma vez que ela usa uma linguagem mais jovem, informal e mistura bastante o francês da França com o do Mali, bem como com o inglês. Mas para calar a boca dos conservadores, Aya Nakamura saiu como uma rainha do Institut de France, reduto da Academia Francesa, e entoou seu sucesso "Pookie" antes de cantar os versos de "For me formidable" do cantor francês Aznavour: "Eu deveria escolher melhor meu vocabulário, para te agradar, na língua de Molière." Tudo isso acompanhada da Guarda Republicana. Um feat daqueles, hein? Elle a dead ça ! Vive la langue vivante d’Aya Nakamura !

Fala sério, é cada referência incrível, né? A news tá ficando pequena pra tanta coisa. Mas fica aqui mais um momento importante da noite: a presença da DJ Barbara Butch, ícone lésbico das noites parisienses. Ela apareceu comandando o oitavo quadro da cerimônia, “Festivité”, no centro da passarela Debilly, em uma cenografia fazendo referência ao quadro “Le festin des Dieux”, de Jan Harmensz van Bijlert - e não à “A Última Ceia” do Da Vinci! Ela estava acompanhada das drag queens francesas Nicky Doll, Paloma e Piche, bem como do dançarino estrela Germain Louvet e da dançarina Princess Madoki.

Ao som de canções francesas dançantes, personalidades do mundo das artes e da moda desfilaram sobre a mesa de Barbara Butch, vestindo peças icônicas de jovens criadores, como as roupas da marca guadalupense C.R.E.O.L.E.
Sim, Guadalupe estava em destaque: foram os atletas e campeões olímpicos Marie-José Perec e Teddy Rine, também guadalupenses, que acenderam a Pira Olímpica! Esse foi mais um momento inovador na cerimônia, já que pela primeira vez a Pira foi acesa por um homem e uma mulher conjuntamente.

E claro, para fechar isso tudo com chave de ouro, tivemos a cantora canadense e quebequense Céline Dion interpretando Edith Piaf, se apresentando pela primeira vez desde que foi diagnosticada com uma doença raríssima, a Síndrome da Pessoa Rígida, em 2022. Tenho certeza de que, se você assistiu, se emocionou! Olha aqui:

E aí, quem adorou essa cerimônia? É claro que tiveram muitos mais momentos, alguns mais clichês que outros… É claro que foi bastante longa e muita gente não aproveitou como deveria, mas nós, particularmente, amamos! 😍 Foi lindo!

Vibramos com cada referência e nos emocionamos, sim, embora tenhamos consciência de que muito do discurso de diversidade e igualdade francês acaba, muitas vezes, ficando apenas na teoria. Ainda assim, achamos que o show todo foi uma ótima resposta a um ano de 2024 marcado pela ascensão da extrema-direita na França e pela violência dos discursos em torno das questões identitárias. ✨

Bisous e até a próxima news,